Total de visualizações de página

terça-feira, 19 de novembro de 2013

SENSUALIZANDO (SEM SE DAR CONTA DISSO)


Dia desses ouvi um amigo narrando uma cena que, como ele mesmo disse, o deixou perdidamente apaixonado...



Já era quase duas da tarde, e ele terminava seu almoço deliciosamente solitário, lendo uma deliciosa matéria de uma antiga Bravo, quando uma garota elegante, charmosa, descolada e apressada, entrou pela porta carregando uma caixa.
Pães? Tortas de limão? Croûtons? Ele não sabia. Sabia apenas que o conteúdo devia se tratar de algum tipo de iguaria, posto que a garota rumou direto para o balcão na entrada da cozinha e deixou a caixa com um garçom, de quem colheu uma assinatura. Sempre sorrindo um sorriso de garota sabida. Ela era linda – ele enfatizava. “Rapaz, parecia uma nova-iorquina, sei lá, uma personagem de um filme francês”. E continuou com o ar de orgulho alheio: "E ela estava trabalhando! Num negócio próprio, pequeno, mas dela, só dela... Entende?" – ele contava como quem via a cena no horizonte. “Aquela garota tinha um sonho...”

“Apaixonei!” – ele finalizou, exclamando.

É, não foi a primeira vez que vi um homem babando por uma mulher bonita, mas confesso que, pela primeira vez, me caiu uma ficha: é verdade, carregar um sonho no semblante pode ser uma coisa extremamente fascinante.

A curiosidade, a coragem, ou aquela faísca que essas pessoas trazem no olhar enfeitiçam mais profundamente do que um belo par de seios, ou um tórax definido.

Na verdade, como bem se sabe, a forma física raramente é garantia de sucesso numa parceria. Já quando se tem ao lado uma pessoa que acredita em si e arregaça as mangas para ser feliz, aí é outra história... A coisa se desenvolve, porque essas pessoas nos deixam permanentemente atraídos.

Aliás, vamos combinar: nada mais sexy do que uma pessoa segura. Diligente, ativa, competente, saudável, e sobretudo, envolvida – única e exclusivamente com a sua própria vida.

Sabe que depois de ouvir o inocente relato do amigo, fiquei pensando nas situações opostas... Na apatia que nos acomete quando nos sentimos 100% responsáveis pela felicidade de outra pessoa. Ou quando é preciso estar sempre convencendo o outro de que a vida é boa. Enjoa. Convenhamos, remar o barco sozinho pode ser muito chato. Além do mais não é lá tão estimulante conviver com alguém que já “chegou” onde queria chegar; alguém que já se sente plenamente confortável, que se apegou às reles garantias; que se acomodou; ou que simplesmente desaprendeu a sonhar. Feito o rapaz que passou ainda jovem no concurso público e nunca mais saiu de lá – mesmo achando ruim, era melhor que se esforçar, ou a menina que só pensava em se casar – depois seria feliz para sempre, sem nada mais para conquistar. Tsc, viver assim é como ir à festa e não dançar, ou como fazer uma merenda antes do jantar.

Na lei da selva está escrito: a fome, a ousadia e a vontade de viver são elementares para o sucesso dos ciclos – especialmente o reprodutivo.

Pensando bem, não é raro eu me deixar encantar pelo vocalista da banda no show ao vivo, pelo DJ que está fazendo o som da festa, pelo barman que prepara os drinques sorrindo, pelo chefe de cozinha, pelo professor, pelo fotógrafo, pelo médico, pelo entregador de pizza. Muitas vezes são charmosos, mesmo quando não são bonitos. Porque não é difícil reparar no tempero daquelas pessoas que estão vivendo os dois lados da vida ao mesmo tempo. Naqueles que se tornam irresistíveis à íris porque amam o que fazem, e o fazem sabendo disso. Talento.

Enfim, até agora não sabemos o que a menina trazia na caixa que ela entregou na cozinha, e sobre seus sonhos, menos ainda. Mas uma coisa é certa: aquela garota não está sentada na sala de espera. Ao contrário, aquela já caiu para dentro da vida e vai com tudo pra cima.

É, aí não tem jeito, meu amigo: quem se relaciona assim, tête-à-tête com o dia a dia, mesmo sem querer, sensualiza.

(Ao menos por mim, sua paixão repentina foi plenamente compreendida.)
MARIA SANZ MARTINS | marysnt@hotmail.com



"Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel." (1 Timóteo 5:8)




Nenhum comentário:

Postar um comentário