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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

COMO SE MANTER SEGURO AO PEDALAR NAS RUAS




Se você acha que essa coisa de bicicleta não é para você e quer continuar andando de carro, tudo bem, continuo sendo seu amigo. Apenas peço que continue sendo meu amigo também: na próxima vez que me vir de bicicleta, ultrapasse a uma distância segura e dê uma buzinadinha simpática, que eu retribuo o cumprimento. :)
Mas se você experimentar trocar o carro pela bicicleta, um dia que seja, vai chegar no seu destino mais disposto e feliz. A endorfina liberada pelo exercício físico vai te fazer ter um dia melhor no trabalho. Só por não ter se estressado em esperar aquele sinal que abriu e fechou três vezes, você já vai sentir uma diferença enorme. Vai queimar aquelas gordurinhas que insistem em continuar ali, por mais que você reze para São Regime. Vai melhorar sua capacidade respiratória e correr menor risco de infarto.Vai economizar combustível e provavelmente até chegar mais rápido.
Se você está pelo menos pensando na hipótese de usar a bicicleta, ou se já a utiliza mas fica preocupado, escrevi uma série de artigos para mostrar que usar a bicicleta nas ruas pode ser seguro e agradável, mesmo nas grandes cidades. Neste artigo, há recomendações sobre como se portar no trânsito. Eu sei que você já é crescido e sabe atravessar a rua, não é isso: eu quero te ajudar a não correr riscos desnecessários e a desfazer a idéia de que pedalar junto com os carros é coisa de maluco. É viável, desde que você tome alguns cuidados.
Iluminação: Nem sempre lembradas como item de segurança, as luzes da bicicleta têm papel essencial. Afinal, é muito mais importante evitar uma situação de risco do que se preparar para sobreviver a ela. Para poderem ter tempo de reação e desviar de você com segurança, os motoristas precisam vê-lo. E, à noite, o ciclista se torna ainda mais invisível. Os refletivos, que a lei obriga a virem com as bicicletas, são de pouca ajuda. Use luz branca na frente e vermelha atrás, para os motoristas saberem rapidamente se você está indo ou vindo. E sempre piscante, pois a intensidade luminosa das lanternas de bicicleta não é suficiente para se destacar com segurança quando acesa de modo ininterrupto. A luz piscante atrai muito mais a atenção do motorista.
Capacete: A condução segura da bicicleta tem um potencial de protegê-lo muito maior que o uso do capacete, principalmente se você não vai fazer do seu uso da bicicleta uma atividade de risco. Mas, especialmente para quem está começando, seu uso é recomendável, pois você ainda não terá o equilíbrio e a habilidade como fatores naturais, aumentando suas chances de cair. Claro que um capacete diminui a chance de traumatismo craniano, assim como uma joelheira diminuiria a chance de machucar os joelhos, mas tenha em mente que ele não lhe protegerá dos carros, apenas de você mesmo. Pedale devagar e não precisará colocá-lo à prova.
Luvas: Não são imprescindíveis mas convém usar, por dois motivos. O primeiro é que a pele pode ficar irritada pelo apoio contínuo na manopla; o outro é que, se você cair, tentará parar a queda com a mão, esfolando toda a palma se estiver sem a luva. E no frio, as luvas fechadas tornam-se importantes para suas mãos não enrijecerem com o vento gelado, o que pode até atrapalhar na hora de frear.
Ande sempre pela direita e na mão dos carros. Em alguns casos pode ser melhor usar a esquerda quando a via é de mão única, mas são raras exceções. Usar a faixa da direita é mais seguro, por ser a área destinada aos veículos com menor velocidade – como a bicicleta. Quanto à contramão, há várias razões para usar a mão correta e todas elas visam sua segurança. São tantos motivos que escrevi um artigo exclusivo para esse assunto, mas cito aqui os principais.
Um pedestre que vai atravessar a rua só olha para o lado de onde os carros vêm. Um carro que vai entrar em uma rua, também. Ele não espera encontrar uma bicicleta vindo na contra-mão. Um carro fazendo uma curva à direita também não espera uma bicicleta vindo na direção contrária, ainda mais no lado de dentro da curva. Um motorista que estacionou e vai abrir a porta, olhará só no retrovisor para ver se pode abri-la, não tem motivos para olhar para a frente. Um carro saindo de uma garagem ou de uma vaga de estacionamento, idem.
Além disso, a velocidade em que você se aproxima de um carro é muito maior se você estiver na contramão, por ser a soma das velocidades dos dois veículos. Se você estiver a 20km/h e o carro a 40, você estará se aproximando dele a uma velocidade relativa de 60km/h. O carro vai ter bem menos tempo pra reagir à sua presença e desviar de você, fora o fato de que uma colisão nessa velocidade faz um bom estrago. Se nesse mesmo exemplo você estiver no mesmo sentido do carro, a velocidade relativa entre ambos será de apenas 20km/h: o motorista terá mais tempo para desviar e a chance de colisão diminui muito. E, numa possível colisão, o estrago será menor. Claro que eu espero que ninguém descubra isso na prática, por isso é melhor confiar na matemática!
Cuidado com as portas dos carros parados. Muitos motoristas olham no retrovisor procurando o volume grande de um carro antes de abrir a porta e acabam não vendo a magrela chegando, principalmente à noite (outro ponto a favor da iluminação piscante). Ou o motorista olha em um ângulo que faz a bicicleta ficar em um ponto cego, ou é distraído mesmo! Tem até quem abra a porta toda de uma vez, empurrando com o pé. Por isso, fique a uma distância que seja suficiente para nenhum distraído te derrubar. Mantenha pelo menos um metro dos carros parados, tentando imaginar até onde iria uma porta aberta. De preferência, ocupe a faixa seguinte. Preste atenção se há pessoas dentro deles, se o carro acabou de estacionar, se está com as lanternas acesas. E se o motorista começar a abrir a porta, toque atrim-trim ou grite “portaaa!”, geralmente ele percebe e a puxa de volta.
Não trafegue muito na direita, em cima da sarjeta, senão os carros vão tentar passar na mesma faixa em que você está, mesmo que não haja espaço. Você pode desequilibrar e cair só com o susto, sem falar no perigo de um esbarrão. O código de trânsito obriga os motoristas a passarem a 1,5m de você, mas não sabem disso porque não é ensinado na auto-escola (entenda aqui a importância e o motivo do 1,5m). Ande mais ou menos na linha de um terço da pista, assim não fica tão antipático quanto ocupar a pista toda , você tem espaço para desviar de buracos sem ter que ir mais para a esquerda e, principalmente, os carros vão ter que esperar até ter espaço suficiente para te ultrapassar pela outra faixa, sem te colocar em risco. E mesmo que te fechem, você ainda terá um respiro para fugir para a direita sem ter que se jogar na calçada. Saiba por que muitos ciclistas ocupam toda a faixa e entenda por que (e como) fazê-lo.
Mas seja compreensivo com os motoristas: quando você passar por um trecho considerável onde não houver carros parados, use a área de estacionamento para desafogar a fila de carros atrás de você. Assim aquele motorista que está atrás de você há alguns minutos sem conseguir te passar vai embora antes de ficar nervoso. Apesar de você estar no seu direito, muitos motoristas não vêem dessa forma e se irritam com sua presença, esquecendo que a rua é de todos e não apenas dos carros. Apenas tome muito cuidado ao retornar à faixa de rolamento: sinalize, aguarde um momento seguro e entre.
Sempre sinalize o que vai fazer, com sinais de mão. Peça passagem, dê passagem, sinalize que o motorista pode passar quando você parar para esperar ele, avise quando você for precisar entrar na sua frente por causa de um carro parado e espere para ver se ele vai parar mesmo. Agradeça se ele parar ou te der passagem. Respeite e será respeitado.
Sinalize com a mão esquerda em 90º quando for virar à esquerda e com a mão direita quando for virar à direita. Quando for continuar em frente em um local onde muitos carros viram à direita, sinalize com a mão em 45º, como a Renata Falzoni faz nessa foto. E sempre veja se o motorista vai mesmo te esperar.
Um ciclista educado é melhor recebido nas ruas. Motoristas são bem suscetíveis a abordagens educadas. Quantas vezes já não vimos um motorista, que está se posicionando para não deixar outro entrar na sua frente, ceder a vez quando o primeiro faz um simples sinal com a mão? Pois esse sinalzinho de mão, acompanhado de um sorriso e seguido de um sinal de agradecimento, faz milagres. Muitos motoristas que estiverem te vendo como “um folgado ocupando a rua” vão pensar “pô, pelo menos o cara é educado”. Já é alguma coisa e pode ser a diferença entre uma situação de risco ou não. E esses passarão a tratar melhor o próximo ciclista que virem. Ou seja, com boas maneiras no trânsito você acaba ajudando a todos nós. Obrigado! :)
Evite as grandes avenidas. Vias expressas, ou avenidas com muito fluxo e pouco espaço, nem pensar. Avenidas com várias pistas costumam ser viáveis, mas é sempre bom optar por ruas que sigam em paralelo, principalmente quando você estiver começando a se aventurar no trânsito. E em horários de pico pode ficar mais difícil trafegar nas avenidas. Há pouco espaço sobrando, obrigando o ciclista a usar o corredor, mas os motociclistas são impacientes. E quando o trânsito anda 100 metros, os motoristas querem recuperar todo o atraso em poucos segundos, buzinando e acelerando atrás do ciclista como se fosse ele o responsável pelo congestionamento.
Procure ruas menores, que os carros evitam por precisar parar a cada esquina, por terem lombadas, valetas ou muitos semáforos. O que é ruim para os carros costuma ser bom para as bicicletas. A escolha da rota é um item importante de segurança. Não pense no trajeto como se estivesse de carro e, se não souber que caminho fazer, procure a Bicicletada de sua cidade e peça algumas dicas, ou peça a ajuda de um Bike Anjo 
Como regra, se você estiver com medo de pedalar em certa avenida, melhor não fazê-lo, mesmo porque se você estiver muito inseguro pode cometer algum erro bobo ou até perder o equilíbrio devido à tensão. Avenidas onde o fluxo de carros segue a uma velocidade alta mesmo na pista da direita são desaconselháveis, fuja de lugares assim. Ruas menores são mais seguras e muito mais agradáveis, mesmo que com isso o percurso aumente um pouco.
Calçada é para pedestres. Se precisar passar pela calçada ou atravessar na faixa de pedestres, o código de trânsito manda desmontar da bicicleta, como os motociclistas (conscientes) fazem (art.68, §1º). E essa lei não é apenas uma regra arbitrária feita por quem nunca andou de bicicleta, há motivos suficientes para não usar a calçada. Os pedestres que estão de costas para você podem dar um passo para o lado sem te ver chegando. Um carro pode sair de dentro de uma garagem de prédio e te acertar em cheio, ou aparecer na sua frente de um modo que você não consiga desviar – e o errado (e machucado) vai ser você…
Idosos morrem de medo de bicicleta na calçada, por terem um compreensível medo de se machucar, principalmente aqueles que estão em uma idade em que um osso quebrado pode ser impossível de ser consertado. Se você passar com a bicicleta na calçada perto deles, vão reclamar e com toda razão. Comparativamente, é o mesmo que um caminhão vir na sua direção e desviar na última hora: eles podem cair só com o susto de ver a bicicleta chegando.
Quer mais um bom motivo para não andar na calçada? Uma criança pode aparecer correndo de dentro de alguma casa. Já pensou ter na consciência o atropelamento de uma criança de três anos? Péssimo, né? Melhor não correr esse risco. Fique sempre na rua. Se precisar passar pela calçada, desmonte e vire pedestre.
Não fure o sinal. Não passe sinal vermelho com a bike, pois pode aparecer um carro em alta velocidade na transversal e você não conseguir fugir a tempo. Ou pode aparecer um pedestre atravessando a rua correndo, olhando só para o lado de onde ele espera vir o perigo.
A pista dos ônibus costuma ser perigosa. Em faixas exclusivas para ônibus, alguns motoristas não têm a menor paciência com ciclistas, porque precisam sair da pista exclusiva para ultapassá-los e os motoristas dos carros não deixam. Se o trânsito estiver pesado e o fluxo estiver lento-quase-parado, é melhor tentar trafegar pela pista da esquerda (desde que seja uma via de mão única, claro). O código de trânsito dá respaldo a essa atitude (art. 58). Ou tente usar a segunda pista (a primeira após a faixa de ônibus). O melhor mesmo é evitar avenidas onde há corredor de ônibus na direita.
Em esquinas onde muitos carros viram à direita, tome cuidado adicional. De vez em quando, um carro que está na segunda pista vira rápido numa rua à direita, porque lembrou disso na última hora ou porque não deixaram ele mudar de pista antes. Quando calcula rapidamente se vai dar tempo, o motorista só analisa os carros que estão vindo e pressupõe que a bicicleta é muito lenta. Às vezes o motorista da primeira pista mesmo, que está do seu lado, pensa isso e corta sua frente. Por isso, quando vir que muita gente vira em algum lugar à direita, sinalize com a mão que você vai seguir reto, ou peça passagem com a mão.
Sempre se adiante ao que os carros podem fazer. Olhe para trás (ou no retrovisor) para ver se não está vem vindo algum maluco, voando para entrar na rua que está cinco metros à sua frente. Veja se o trânsito está parando em uma única faixa, o que faz os motoristas saírem irritados dela sem prestar muita atenção a quem vem vindo. Fique atento ao posicionamento e trajetória dos veículos ao seu redor, usando tanto a visão quanto a audição.
Permita que os carros antecipem o que você vai fazer. Não fique fazendo zigue-zague, não entre sem olhar numa avenida e não mude de pista sem sinalizar, mesmo que o motorista mais próximo esteja lá atrás. Do mesmo modo que ele pode calcular mal sua trajetória e achar que vai dar tempo de passar na sua frente, você pode se enganar ao achar que vai dar tempo de mudar de pista antes dele chegar. Sinalizando, o motorista prevê o que você vai fazer e diminui a velocidade. Veja, seja visto e comunique-se no trânsito.


EXTRAÍDO DE http://vadebike.org/2004/09/dicas-para-o-ciclista-urbano/

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