Andamos tão cheios de decepções com
certas pessoas que fizeram parte de nosso passado recente que deixamos de
acreditar na capacidade de nos relacionarmos e de podermos viver um grande
amor.
A onda de solidão imposta por nossos
medos e desacertos, fez-nos cair num ostracismo sem limites e, como uma bola de
neve, não nos permitimos ter gente de carne, osso e sentimentos por perto, e acabamos por
encontrar companhia nos livros, nos filmes ou em redes sociais.
Não que isso nos agrade ou nos faça
felizes. Não. Na verdade somos carentes de relações reais. Queremos acreditar
que as histórias contadas nos romances e na telinha podem acontecer conosco e
que, sim, poderemos a qualquer hora protagonizarmos e vivermos momentos de astros e
estrelas de um grande filme de amor.
No instante em que entramos em um grupo
de fotografia, ou fazemos um curso de culinária, ou de Direito (on line, claro,
porque somos bichos estranhos e diferenciados) esperamos encontrar pessoas que tenham
o mesmo interesse que nós. Desejamos que do outro lado da telinha a pessoa que
integra aquele rol seja, pelo menos, um pouco parecido conosco.
E nessas buscas pelos “parecidos
conosco”, do nada, esbarramos de forma acidental em pessoas maravilhosas e descobrimos, em
minutos de convivência, que existem por aí algumas semelhantes a nós. Pessoas
que acreditam, que almejam, que sonham, que perseguem os mesmos ideais que nos
movem. O que nos falta é tirarmos a cabeça do modo automático e dirigirmos
nossas vidas utilizando nossas próprias mãos. O resultado pode ser
surpreendente!
É bem verdade que muitas vezes nem nós
mesmo sabemos o que, de fato, estamos procurando. Do ponto de vista dos
relacionamentos, sejam eles amorosos ou não, vivemos perdidos por não termos a
real ideia do que queremos. Muitas vezes procuramos por afeto ou companhia,
apenas. Nosso comportamento de busca é tão desorganizado que as novidades nos
assustam. Levamos o nosso Manual de Instruções tão à risca que qualquer novo
critério nos atinge. Vivemos com a cabeça tão entupida com as nossas verdades
que nos esquecemos de lembrar que a nossa vulnerabilidade está justamente em
acreditar nessas verdades absolutas que só existem nas nossas cabeças. Mentiras
sinceras nos interessam, essa é que é a verdade.
Se não tirarmos de nós essa postura
empedernida de autodefesa (hipócrita) jamais teremos a oportunidade de
conhecermos o novo. Jamais teremos o prazer de sentirmos borboletas no estômago
e arrepios na espinha.
Veja bem, não estou aqui fazendo
nenhuma apologia à promiscuidade. Apenas estou fazendo a minha confissão sobre
algo que é incontestável: para podermos sobreviver, devemos acreditar que amar
de novo é possível.
O fato de termos errado uma vez não
significa que estamos fadados ao fracasso para todo o sempre.
Não devemos afogar os nossos sonhos de
felicidade e paz em um copo meio cheio.
Devemos sair da nossa casquinha da
perfeição e olharmos para a nossa necessidade de afeto com olhos mais
benevolentes. Por conta de fracassos anteriores dos quais não tínhamos toda
culpa, conforme nos fizeram crer até hoje, nos embrutecemos e nos fechamos.
Somente encontraremos nossos pares se
abrirmos mão do nó das falsas idealizações que criamos. Não importa que se
essas almas gêmeas escrevam conosco uma história de parceria ou nos completem
com amizade ou com um sublime amor.
É sem armaduras douradas e perfeitas
que vamos ao encontro do estranho que, de perto, nem é tão estranho assim.
É sem a expectativa do malvado “manual
de instrução” que daremos ao luxo de encontrarmos a deliciosa sensação de
intimidade que, acreditemos, é o que mais faz falta nesse mundo maluco, para
sermos mais humanos.
Falando agora em primeira pessoa... Falando agora de mim, Cida, a mulher que sonha e coloca no papel de forma desajeitada o que pensa e sente, desejosa de me completar e de encontrar a minha cara-metade, tratei de curar as feridas da alma com terapias e conselhos de amigos de verdade. Despi-me de falsos preconceitos e de rótulos. Rasguei todas
as regras e protocolos. Desnudei minha alma de todas as amarras e estou vivendo
momentos adolescentes. Estou à espera daquele que já é, de longe, um grande e especial homem. Ansiedade e expectativa.
Contagem regressiva.
Faltam dois dias.
Seja bem vindo, Vagner.
Vamos reescrever a nossa história.